Reza
Hoje soube de tia Anita. E acendi uma vela. E sem me dar conta acendi outra. E fiz um café preto. E quando vi tinha colocado o café num copo de vidro. E o bebi desse jeito mesmo. E lembrei tia Anita. E lembrei minha avó. E lembrei as duas. Elas se falavam todos os dias ao telefone. Tia Anita era a melhor amiga da minha avó. E entendi por que uma vela e mais outra. Eram elas no meu ato falho. Era isso. E lembrei também que quem tomava café no copo assim, de vidro, era minha avó. Tinha de ser, só podia. E entendi que ela tinha vindo se despedir de tia Anita num outro lapso meu. E achei uma profunda graça nisso. E enchi mais um copo. Mas não bebi. Não consegui. Quem bebia tanto café assim era minha avó e não eu. E entendi que eu não mexeria com lapsos manifestados em velas e copos de vidro. E muito menos com os de pessoas queridas. E entendi que eu tinha medo. E pedi para elas descansarem em paz. E escrevi.