Memórias, sonhos e flores do Lácio
Oi, minha gente, estou de volta. Agradeço a quem me escreveu e telefonou. Está tudo bem, pois. Parei este tempinho não por uma crise criativa como pareceu a alguns mui queridos, mas de toda forma esta pausa, salutar, me fez pensar sobre o blogue e outras frentes da minha vida. Sobre o Sorriso… creio que vou escrever com menos freqüência aqui, pelo simples fato de que o tempo que a rede demanda é muito grande. Embora eu ame este ambiente, ele tem um caráter de drogadição que não me cai muito bem. A mim não cai bem, sem generalizações.
Uma blogueira com esta postura é algo um tanto paradoxal, mas quem me lê sabe que eu não sei ser de outro modo. Aliás, acredito mesmo, sei que esta idéia não é lá muito nova, que aceitar as contradições, aparentes incongruências etc., conviver com elas e seguir sem grandes disfarces seja o desafio. E quem vai dizer que não?
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Estes dias, digamos estas últimas semanas, ando pensando muito nos meus “ex-professores” de literatura, de português, de escrita, se é que isso é possível, e fiz uma espécie de histórico mental da “relevância” ou da insistente presença de cada um na minha vida, alguns nomes se reiteraram. Reencontrei numa rede social uma ex-professora muito marcante do ginásio, Noemi Jaffe, sonhei com outro dos tempos de graduação, Arthur Nestrovski, enfim… Minha atividade onírica parece que resolveu se manifestar com força. Um dos nomes que mais insistiram em visitar-me foi o de Mario Bellatin. E é dele que tenho vontade de falar agora.
Não que eu possa elencá-lo como um professor, longe disso, mas o fato é que o que recebi dele somou-se ao aprendizado que busco desde o primário: o de escrever, o de ler, o de estar viva para as palavras (ou por elas). Creio que ele entra para o rol de “professores” por sua já decantada preocupação com a não deformação de jovens escritores, assunto que muito me toca, haja vista sua Escuela Dinámica de Escritores, ainda que de molho. Ele tem uma visada (ou visadas) da literatura que muito me agrada, sua inquietação relativa ao fazer literário, e as questões que sugere são, antes de tudo, um estímulo criativo. Cada mito relativo à literatura que ele demole ou questão que sugere com propriedade seja em fala, em gesto, em inesgotável e variada produção criativa, seja em livros, parecem que tem um efeito dominó para quem estiver, como eu, interessado em criar e acredite que a criação está na literatura como em outras artes. Um leque largo de artes, aliás.
Dou esta pala, porque além de ele estar me vindo à cabeça há um tempinho sem um deflagrador aparente, esta semana fiquei sabendo que ele vem à FLIP, lançará seu Flores pela Cosac, livro que já li, acabei de ler … pois é. Além disso, soube estas novas por uma repórter do Jornal do Brasil que me telefonou, porque ao “dar um Google” descobriu que eu havia feito uma “oficina” com ele. Tive de falar do moço, falei o que pude, em verdade eu não tinha muitas histórias para contar. Mas foi bom o telefonema, ao menos para mim, dei-me conta de o que ficou de Bellatin foi a experiência, menos com ele do que comigo, algo similar com o que experimentamos numa análise, é difícil narrar o que foi vivido em análise, com a “oficina” dele foi o mesmo. Ficou a vivência intensificada em poucos dias dos meus medos e limites e pós e prós quando de frente para escrita. Nada mensurável, historiografável, enfim. Coisa que eu acho muito boa, significativa. Algo mais profundo foi mobilizado na experiência.
Caros, para ficar mais claro um pouco da “oficina” dada por Bellatin vale assistir este Entrelinhas, devo fazer a ressalva de que Maria Alzira Brum Lemos teve um papel mais relevante nesta empreitada do que o programa apresenta. Ela coordenou os trabalhos junto com renomado escritor, ralou muitíssimo. Aliás, devo dizer, de que não tenho dúvidas de que no Brasil seja ela quem mais conheça o trabalho deste autor, que foi trazido pela primeira vez ao país por ela e Marcelino Freire na Balada Literária de 2007.
P.S.: Não resisto, escontrei outra entrevista também muito boa com Bellatin, basta clicar aqui.