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Memórias, sonhos e flores do Lácio

 

Oi, minha gente, estou de volta. Agradeço a quem me escreveu e telefonou. Está tudo bem, pois. Parei este tempinho não por uma crise criativa como pareceu a alguns mui queridos, mas de toda forma esta pausa, salutar, me fez pensar sobre o blogue e outras frentes da minha vida. Sobre o Sorriso… creio que vou escrever com menos freqüência aqui, pelo simples fato de que o tempo que a rede demanda é muito grande. Embora eu ame este ambiente, ele tem um caráter de drogadição que não me cai muito bem. A mim não cai bem, sem generalizações.

Uma blogueira com esta postura é algo um tanto paradoxal, mas quem me lê sabe que eu não sei ser de outro modo. Aliás, acredito mesmo, sei que esta idéia não é lá muito nova, que aceitar as contradições, aparentes incongruências etc., conviver com elas e seguir sem grandes disfarces seja o desafio. E quem vai dizer que não?

***

Estes dias, digamos estas últimas semanas, ando pensando muito nos meus “ex-professores” de literatura, de português, de escrita, se é que isso é possível, e fiz uma espécie de histórico mental da “relevância” ou da insistente presença de cada um na minha vida, alguns nomes se reiteraram. Reencontrei numa rede social uma ex-professora muito marcante do ginásio, Noemi Jaffe, sonhei com outro dos tempos de graduação, Arthur Nestrovski, enfim… Minha atividade onírica parece que resolveu se manifestar com força. Um dos nomes que mais insistiram em visitar-me foi o de Mario Bellatin. E é dele que tenho vontade de falar agora.

Não que eu possa elencá-lo como um professor, longe disso, mas o fato é que o que recebi dele somou-se ao aprendizado que busco desde o primário: o de escrever, o de ler, o de estar viva para as palavras (ou por elas). Creio que ele entra para o rol de “professores” por sua já decantada preocupação com a não deformação de jovens escritores, assunto que muito me toca, haja vista sua Escuela Dinámica de Escritores, ainda que de molho. Ele tem uma visada (ou visadas) da literatura que muito me agrada, sua inquietação relativa ao fazer literário, e as questões que sugere são, antes de tudo, um estímulo criativo. Cada mito relativo à literatura que ele demole ou questão que sugere com propriedade seja em fala, em gesto, em inesgotável e variada produção criativa, seja em livros, parecem que tem um efeito dominó para quem estiver, como eu, interessado em criar e acredite que a criação está na literatura como em outras artes. Um leque largo de artes, aliás.

Dou esta pala, porque além de ele estar me vindo à cabeça há um tempinho sem um deflagrador aparente, esta semana fiquei sabendo que ele vem à FLIP, lançará seu Flores pela Cosac, livro que já li, acabei de ler … pois é. Além disso, soube estas novas por uma repórter do Jornal do Brasil que me telefonou, porque ao “dar um Google” descobriu que eu havia feito uma “oficina” com ele. Tive de falar do moço, falei o que pude, em verdade eu não tinha muitas histórias para contar. Mas foi bom o telefonema, ao menos para mim, dei-me conta de o que ficou de Bellatin foi a experiência, menos com ele do que comigo, algo similar com o que experimentamos numa análise, é difícil narrar o que foi vivido em análise, com a “oficina” dele foi o mesmo. Ficou a vivência intensificada em poucos dias dos meus medos e limites e pós e prós quando de frente para escrita. Nada mensurável, historiografável, enfim. Coisa que eu acho muito boa, significativa. Algo mais profundo foi mobilizado na experiência.

Caros, para ficar mais claro um pouco da “oficina” dada por Bellatin vale assistir este Entrelinhas, devo fazer a ressalva de que Maria Alzira Brum Lemos teve um papel mais relevante nesta empreitada do que o programa apresenta. Ela coordenou os trabalhos junto com renomado escritor, ralou muitíssimo. Aliás, devo dizer, de que não tenho dúvidas de que no Brasil seja ela quem mais conheça o trabalho deste autor, que foi trazido pela primeira vez ao país  por ela e Marcelino Freire na Balada Literária de 2007.

P.S.: Não resisto, escontrei outra entrevista também muito boa com Bellatin, basta clicar aqui.

Aviso aos navegantes

Queridos, precisei dar uma  pausinha no blogue, devo estendê-la até meados da semana que vem. Logo regresso, pois. Beijos gerais e irrestritos. 

Lu

Dica – o menino não quer comer

Uma pessoa muito querida indicou-me este link, um post de hoje do  Marcelo Coelho a respeito de um livro chamado Por trás dos muros da escola. Tocou-me sobremaneira, para ler basta clicar aqui.

Miriam Makeba, chove…

Esta versão de Makeba é de uma delicadeza e intensidade que me  encantam e confortam. É bom escutá-la para além de Pata Pata. Seu Chove chuva é um “colo”, sinto assim, que tenho buscado reiteradas vezes ultimamente. Faz sentido, vários. Deixo a cargo de vocês agora. Há que se tocar adiante o trajeto desta voz, da África para o mundo, não por acaso até aqui também numa canção de Ben Jor. 

Forgetting Dad, é tudo verdade

É raro, mas há filmes que congestionam, perturbam, acordam-nos no meio da noite, literalmente, puxam nossos pés, e a única saída, ao menos pra mim, é escrever sobre eles, ainda que eu não tenha muito a acrescentar além da revelação do meu assombro. É o caso do documentário Forgetting Dad (Esquecido papai), de Ricky Minnich, cujo subtítulo “If you father no longer remember you, does he stop being you father?” já dá pistas do quanto poderemos não passar incólumes a ele.

Saí do filme, assistido no É tudo Verdade, devastada, gostaria de um termo menos emotivo, mas a palavra é “devastada”. O documentário trata da procura de respostas de Ricky, o diretor do filme, para a perda de memória de seu pai após um acidente sem gravidade aparente. O cineasta mobiliza a família, os irmãos do primeiro casamento do seu pai, do segundo, madrasta, mãe, tios e tia, trazendo à tona a tragédia comum e, inelutavelmente, as seqüelas que ela imprimiu. Somos expostos com crueza a dor irreparável a que todos envolvidos foram submetidos pelo esquecimento do “esquecido papai”. Entretanto, tamanha verdade é desvelada, por incrível que possa parecer, como extrema delicadeza, salto estético e ético que só torna o documentário mais impactante, para não dizer: chocante.

Seria um filme difícil, mas não tanto quanto é, caso a amnésia do pai fosse um trauma que o edificasse, o justificasse, o desculpasse como vítima, mas não é o que a investigação indica, todo o sofrimento familiar e a “perda “do pai pode ter sido uma armação dele. Ainda não sei se dou conta de acreditar nisso. Deparamo-nos com a hedionda possibilidade do “esquecido papai” ter simulado a perda da memória para escapar de uma realidade que para ele era insuportável. É terrível pensar, mas seria “mais fácil” se o pai tivesse de fato apagado, morrido, tivesse dado a chance de os filhos fazerem seu luto. Mas não seria verdade se assim o fosse, não seria o “esquecido papai”.

Caros, como é terrível chegar a este desfecho possível. Não há saída, ele fica cozinhando, na medida em que a busca do filho levou a uma figura paterna que mesmo revisitada e desconstruída insiste em querer assombrar, porque não permite uma resposta satisfatória, minimamente, não uma que seja suportável. É isso: o filme é insuportável e a sua memória também.

Na sessão em que fui estava o cineasta, ali, à mão, aberto a questões, não consegui dizer palavra,  os poucos que falaram só conseguiram agradecer o feito, a história ter sido compartilhada, o que dadas as circunstâncias já me pareceu muito. Não preciso dizer que chorei horrores, e honestamente? Creio que preferia não ter visto o cineasta, menos ainda presenciado sua disponibilidade em falar, porque eu gostaria que ele não precisasse dizer mais nada, eu gostaria de acreditar que o documentário tivesse sublimado tudo, fechado a ferida, mas não, ela ainda estava ali, aberta a perguntas, encarnada naquele homem, no Festival.

Que coragem de ser humano desse Ricky Minnich, a amelancolia pode fazer bravos com ele. É tudo verdade.

Para saber mais clique aqui e aqui .

Feliz páscoa

via

Estou aqui olhando pra esse computador como quem precisa dizer, esperando que alguma coisa venha. Mas como não vem, eu vou. Feliz Páscoa. Até a manhã ou depois, quem sabe?

Sábado de aleluia – de cara a la parede

De cara a la pared

(Lhasa de Sela / Yves Desrosiers)

Llorando
de cara a la pared
se apaga la ciudad

Llorando
Y no hay màs
muero quizas
Adonde estàs?

Soñando
de cara a la pared
se quema la ciudad

Soñando
sin respirar
te quiero amar
te quiero amar

Rezando
de cara a la pared
se hunde la ciudad

Rezando
Santa Maria
Santa Maria
Santa Maria

P.S.: Porque hoje eu penso nas dores de Maria e na sua alegria, caso ela tenha acreditado na ressurreição. Deve ter. Este post vai para minha mãe, Maria.

Fixação, azul

Sempre revisito este filme. Ponto.

Chegando junto da Sutil Companhia

Leonardo Medeiros em Avenida Dropsie

Caros, eu não poderia deixar de comentar, por mais en passant que fosse, algo sobre a Sutil Companhia, ainda que  a temporada dela em Sampa comemorando seus 15 anos de vida já tenha encerrado.

Um teatro tão vital como o de Felipe Hirsh certamente voltará à baila muitas e muitas vezes, então fica aqui meu depoimento, à lá diário. Das 19 peças da Sutil assisti a apenas 4, confesso que me ressinto de não ter visto A vida é cheia de som e fúria, sempre achei que esta peça me daria pistas de qual é a desta companhia logo, de chofre, porque custei a sacar e a gostar dela. 

Gostar como aprendi a gostar atualmente: com esperança de mais e melhores espetáculos. A primeira peça que assisti da Cia, e já se vão alguns anos, foi Alice, me lembro do impacto visual  e de ter achado o texto muito arrastado, a “musa” da companhia Simone Spoladore (que adoro!) constrangedoramente emproada e gélida, enfim, não gostei do que vi. Em verdade, eu só consegui ver neste espetáculo  a assinatura da Daniela Thomas. Honestamente.

Algo não muito diferente se deu com a Temporada de gripe, apesar de algo nesta peça já ter me cativado mais, muito possivelmente uma única atuação mudou minha perspectiva, a de Leonardo Medeiros, já que eu nunca saio incólume da sua presença, ele é pra mim, disparado, o maior ator de sua geração. Qualquer projeto que o tenha presente já tem um crédito largo comigo. Mas devo assumir que ainda ssim o meu pé atrás com Companhia perpetuou-se. Era tudo bonito demais para ser verdade, muito no lugar, e eu via nessa “misancene” uma pretensão e pedantismo que me estarrecia. Eu não conseguia relaxar como espectadora, participar daquilo. Eu queria estar num teatro não tão quarta parede, o deles não tinha uma arestinha para me segurar. Não porque fosse difícil, mas porque me parecia querer sê-lo. Continuei insistindo, porém. 

Eu deveria estar um tanto equivocada na minha avaliação. Hoje penso que sim e que não. Prosseguindo: fui assistir a uma terceira peça, Não sobre o amor, e a parede se perpetuou, aliás, eu  já a considerava intransponível.  Tudo é tão amarrado visualmente neste espetáculo,  que mais uma vez a dramaturgia me soou uma peneira de textos absolutamente preenchida e abarrotada, salva digamos, uma vez mais, pela assinatura de Daniela (a mesma que eu já conhecia das peças do Gerald Thomas, quiçá repetindo-se). Pois é, saí de Não sobre o amor, a despeito da atuação irretocável de Leonardo, achando que eu tinha entrado em uma instalação e não uma peça. A sensação foi essa, o teatro é tudo, mas é teatro e não uma alta voltagem de artes plásticas.

Pois é, cruel, assumo e assino o que digo, porque sei que todas as críticas foram unânimes em louros e não seria eu a irresponsável de atirar a única pedra, frágil, baseada em impressões. Agora posso fazê-lo, porque minha visada é outra, o suficiente.

Foi necessária uma quarta peça para que eu sacasse que de repente a assinatura de Daniela é algo absolutamente orgânico ao repertório da Cia, não é mais Gerald Thomas pesando angustiadamente, o barato é outro. Palavras e imagens caminham rentes, num equilíbrio não muito fácil, mas este limite revelou-se um  risco muito particular da Sutil Companhia. Do meu ponto de vista nem sempre acertam o balanço. Honestamente? Senti na maioria das vezes falta de texto sólido. Entretanto, o que interessa é que quando saquei um projeto, um repertório, uma proposta que vem sustentando-se ao longo dos anos, passei a gostar, gostar até mesmo de não gostar das peças.  Fiquei confortada em perceber que há um fio que  enlaça o repertório, uma busca,  uma assinatura comum, a Cia tem uma voz que vale ser ouvida. A unanimidade não pode ser descartada, é isso.

A quarta peça foi Avenida Dropsie, ela derrubou todas as minhas resistências como já podem perceber. Minha gente, uma companhia que consegue por em cena 8 atores, brilhantemente, com um cenário irreparável, à altura, nem mais nem menos, e ainda assim sem facilitar retirar gargalhadas de um público que não é propriamente o de frequentadores do teatro, sim porque no Sesi vemos todos os tipos e extratos, só pode ser uma grande Cia. Não é qualquer um que consegue um teatro deste nível e deste alcance, tão popular (não gosto da palavra) e ao mesmo tempo técnico, histriônico sem peder a majestade, o preciosimo.

Eu pude ver uma orquestração tão rara e senti uma felicidade e uma gratidão tão grandes por ter visto a peça que nem sei. Há muito tempo não me sentia saciada e alegre saindo de um teatro,  sem quele peso que as outras peças impingiam, cabeçamente, digamos. Sabe aquela letra: “pletora de alegria o coração?”, por aí.

Fiquei feliz com os econtros, com o perfeccionismo coporal de Weber e nem por isso nem menos nem mais efetivo que a atuação de Leonardo Medeiros, que mesmo quando  é caricato, expressionsta,  uma personagem de quadrinhos, nos faz crer num estranho naturalismo. Amei ambos estarem lado a lado, em contraponto, sem ofuscamentos, pelo contrário, as diferêncas os agigantam. 

Gostei tanto das gags, dos chistes, dos gestos, do casamento perfeito de tudo, leia-se trilha, cenografia, luz e trá-lá-lá,  que quase esqueci as três peças anteriores, mas não, elas estavam lá, embutidas, tramando aquele ponto mais alto. Independente da ordem cronológica em que foram feitas, ok?

Resumindo: das peças que vi da Cia a Avenida Dropsie é um gigante e como gigantes não vem de graça não deixarei mais de assistir a uma peça sequer deles. Aliás, já estou louca para ver a Fernandona de Beauvoir. Imperdível, não?

 

P.S.:  Fica aqui o meu agradecimento ao Dênio Maués pelo toque de que eu deveria esperar ainda mais pra ver. Nem sempre é o caso, mas este foi.

Gato sobre gato, já sabia Andy…

Esta imagem é um pleonasmo. Dilícia. Coisa que ficam são assim, a gente brinca até não poder mais, já sabia Andy Warhol.

P.S.: Este blogue está chique no último. O próximo post deveria ser: citações sobre citações, algo assim, mas dou por encerrado por hoy.