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Otto e Mv Bill, mas que beleza

Dando uma pausa a retórica literária, crítico e etc. e tal deste bloguim, posto aqui este dueto.  O encontro destas duas forças, digamos assim, sinaliza um Brasil que muito me agrada e interessa (em todos os sentidos, respeitável leitor).

Em tempo: no blogue do talentoso cineasta Jefferson De, tomei conhecimeto da possibildade da candidatura de Mv Bill para o senado brasileiro. Subscrevo a boa-nova.

Voltando ao “Entre os muros”, interlocuções

Vamos lá, o dever nos chama. No meu post sobre Entre os muros, assumi uma posição bastante clara sobre o meu pé atrás em relação ao filme. Ele permance, é incrível, ainda que o filme seja uma unanimidade. Provavelmente se eu escrevesse o post hoje, depois de tantas “resenhas” lidas sobre ele, trabalharia o tom para que fosse mais evidente o fato de que, apesar da minha aversão ao longa, eu quero é mais é interlocução. Educação é uma pauta que eu não quero jamais abandonar, até porque não me vejo sem trabalhar com isso.

O escritor e professor Rodrigo Ciríaco passou aqui e expôs sua posição em comentário, maravilha, saio na chuva pra me molhar, na esperança de pelo menos um padedê. Copy e paste:

“Pra mim, você fez um dos melhores resumos do que é o filme. De verdade. E o que você não gosta, que é essa reiteração, a incomunicabilidade total, o filme arrastado, insuportável é o que torna o filme para mim interessante. E totalmente crível. Para mim, o filme diz muito do que é a sala de aula. Claro que o filme não é a realidade, mas um olhar sobre, um recorte. O filme passa sobre todo um ano letivo com uma visão bem seletiva, principalmente dos momentos de tensão, das situações limites. Mas são essas que chamam a atenção para a discussão, pois são apenas a ponta do iceberg. O buraco do muro é muito mais embaixo. E sobre a negra mais negra que não aprende nada, não é um simples desfecho para tanto lero-lero. É uma situação real, infelizmente. Vivida no filme, vivida por mim ontem. Vida não vida, mas que acontece. Ah, sim. E gosto é gosto. Se discute, é claro. Mas gosto é gosto. Eu gostei do filme, não apenas pelo contexto, mas pela proposta e pela ousadia – que para mim existiu. Assim como gostei de “Quem quer ser milionário”, você não mas, tudo bem. Continuamos amigos .”

Evidente que respondi a ele:

“Rodrigo, que bom que deu o seu recado. Eu vou levar, e muito, em consideração o que você disse. Praticamente você me força a ver o filme mais uma vez, essa é a dor e a sorte de ter amigos como você. Mas é gente-gente como você que eu procuro. Sobre o “Quem quer ser milionário” não tem acordo, mas sobre “Entre os muros” sim. E é isso!, continuamos amigos, acredito que é justamente assumir uma posição que faz as relações se aprofundarem: podemos (e devemos) colocar as diferenças na mesa, porque o muro é muito mais embaixo.”

A conversa ficou por aí, mas óbvio que o meu diálogo interno não parou. Por que afinal eu não teria gostado do filme para além do que eu havia elencado? Não podia relevar a opinião de quem está mais que mergulhado no embate diário do sistema escolar. Hoje, abri o blogue  do Ciríaco e estava lá meu post na íntegra “ao lado” de um do Marcelino Freire sobre o mesmo tema, tivemos posturas absolutamente antagônicas em relação ao filme, faz sentido o Ciríaco destacá-las. Ele dá aos seus leitores mais elementos de discussão. Mas me incomoda um pouco meu texto fechado como uma sentença (é certo que meu tom colaborou para isso), porque parto do pressuposto de que um blogue, sobremaneira, é um território livre para mudanças de pontos de vista, pela agilidade de postagem, interlocução etc. e tal.

De toda forma, estou honradíssima com o destaque e com companhia. E na verdade,  seja dito, minha visada não mudou mesmo, não muito. Valeu a consideração, Ciríaco. Feliz ou infelizmente, minha gente, não tenho muito a acrescentar sobre a reação imediata que tive ao Entre Muros, além do que já escrevi, só quero aproveitar o ensejo para reiterar minha abertura. Enfim.

Quase enfim, de tudo que li a respeito o texto que mais me deu elementos de compreensão de minha leitura, e “suspeitas” sobre ela, foi um artigo curto de Luiz Zannin Oricchio, no Estadão de 23/03, em que o crítico faz uma espécie de levantamento da presença da escola no cinema e o seguinte arrazoado no final do artigo:

“Se a escola continua hoje a funcionar como microcosmo das condições sociais, o papel do professor parece se deslocar um pouco. De figura exclusivamente repressora ou redentora, torna-se um protagonista necessariamente ambíguo em uma época conturbada. Como em Entre os Muros da Escola, de Nicolas Cantet, ele vive impasses semelhantes aos de seus alunos. É parte do problema. E também da solução possível”.

Pois é, a questão do papel do professor é algo que me mobiliza muito, vocês nem imaginam o quanto, e justo a fragilidade da personagem, sua chatice e inabilidade foram basilares para que eu não suportasse o que vi. Não suportei, é fato. Não consegui e não quero crer num muro sem frestas. Esta é a posição que sustento. É o que posso, por hora.

 

P.S.: Qualquer dia eu volto ao assunto, quem sabe relatando minha passagem rápida e dolorosa pelo ensino público, ao cumprir minhas horas de estágio de licenciatura em Letras.

ÔRÍ, É tudo verdade

Corram para ver este documentário, seu restauro e digitalização é um acontecimento. Trata-se de um filme que acompanhou por mais de 10 anos o movimento negro no Brasil. Uma referência, pra dizer o mínimo. Na sexta, estarei no Cinesec pra vê-lo, de palmas prontas.

Lygia Fagundes Telles – pra ontem

Designer:  Eugenio Hirsch/ Livraria José Oympio Editora

Eu amo esta capa, não tanto quanto o livro que ela envolve, mas que é um grande casamento não tenho dúvida. Pois bem, levei esta edição para a Lygia autografar e ela ficou felicíssima ao vê-la, comentou o quão a capa era bonita e tudo o mais. Eu concordei, eu queria falar mais com ela, da capa, do livro. Do quão este romance, lido dias antes, tinha entrado na minha corrente sanguínea. E mais: do quanto ele já estava plantado nela sem que eu soubesse.

Eu queria poder ter comentado com a autora, entre tantas outras coisas, o quanto os diálogos desse romance são vivos, ágeis, na ponta da língua, e ainda assim não perdem o fundo mais fundo da prosa. E que por isso, por esta vivacidade, por este papo reto na boca de personagens complexos ela é a autora mais contemporânea que eu já li nos últimos anos. Não que ser contemporâneo seja um elogio, longe disso, mas o fato é que descobri que esta senhora de 80 anos ou mais escreveu, em 1973, uma obra-prima num mood fragmentado que vejo os romances de hoje buscarem.

Em verdade, eu pude perceber melhor a riqueza de Lygia, o tamanho da sua literatura, do seu legado, pelo que veio depois dela. Nunca o texto vital de Borges “Kafka e seus precursores” foi tão claro pra mim. Foi bom ter lido As meninas depois de Antonio, de Bracher, e de O filho eterno, de Tezza, por exemplo, para ficar com dois livros.

Os parentescos entre os três livros são grandiloqüentes para mim, independente do alcance estético de cada um (não darei conta de mostrar num post). As meninas trata da barra pesada da década de 1960-70 de dentro dela, e consegue fazer alta literatura do que estava então à mão. O Filho eterno, de Tezza, e Antonio, de Bracher resgatam justamente o mesmo período, procuram recuperá-lo, e usam expedientes formais que Lygia já tinha acenado nesse seu imenso romance. Talvez ambos não o tenham lido, não é o que mais importa, literatura é assim, mesmo que não saibam, estes escritores (entre outros) pisam numa seara já deflagrada por Lygia e dialogam profundamente com ela.

Lygia para dar conta de anos e espaços e personagens tão turbulentos e ambíguos abriu sua voz em três narradoras, um achado;  Bracher abriu Antonio em dois narradores e uma terceira narradora; enquanto Tezza custurou o resgate do passado numa única voz, mas absolutamente fragmentada, plurivocal, cheia de complexidades e paradoxos. Todos os três livros adotam a primeira pessoa. Mesmo que com vozes distintas e autorias indiscutíveis, os três falam a mesma língua e de um universo temporal historicamente próximo. Não me parece que seja coincidência que Bracher e Tezza tenham tido tanto reconhecimento num mesmo ano, 2008, e justamente regatando os anos 70. Os  livros conversam, basta lê-los. Curioso, não? Parte premiada e significativa da literatura feita hoje parece ter de se imbricar com algo que ficou ali, atrás, mas que ainda se faz muito presente, que é emergente (de emergir e emergência), ainda. Nesse sentido, As Meninas abriu um caminho indiscutível tanto formal quanto temático para parte do que lemos hoje. Esse romance urbano, metropolitano, ágil, absurdamente coloquial (e sapequem-se quantos predicados ao gosto contemporâneo se queira) é um verdadeiro ovo de Colombo.

Lygia, em 1973, escreveu o agora do seu tempo e de hoje, por isso, não por acaso, deixou herdeiros. Não à toa também na orelha dessa edição do As meninas que tenho, já velhinha, pode-se ler algo assim, num tom bem datado, de Telmo Martino, mas justo: “Um exemplo raro de profissionalismo dentro da literatura, principalmente porque o instante e o assunto escolhidos estavam cheios de perigos e dificuldades. O instante é o atual e tão atual que as páginas são viradas no mesmo gesto com que se arranca uma folha do calendário”.

Pois é minha gente, dentro deste post há uma tese, esboçada, mas que aos trancos e barrancos pode ser resumida no seguinte recado: “Quer conhecer literatura brasileira contemporânea? Procure uma autora chamada Lygia Fagundes Telles. É um bom começo de um dos mais que possíveis começos.”

 

P.S.: Estive com Lygia bem en passant por ter ido, a convite do Marcelino Freire, a um programa de tevê em que ele e Lygia foram convidados para falar de literatura, mediados por Manoel da Costa Pinto. Ela não podia estar mais à vontade, de cima dos 80 topa bem uma horizontalidade, com a maior lucidez e elegância. A prosa de Marcelino Freire, bem afiada no dia, não soou nada estranha a um ouvido atento e operante como o dela aliás, muito pelo contrário. Revelaram-se também pontos de contato entre ambos, mas isso dá outro post. Para ver os bastidores desse encontro e saber mais basta clicar aqui.

Dica da casa – Te pego lá fora

Livro de contos do jovem  e aguerrido professor Rodrigo Ciríaco baseado em seu cotidiano no ensino público brasilis. 

Para saber mais visite o blog do autor http://efeito-colateral.blogspot.com/

P.S.: Diferente de mim, Rodrigo gostou do Entre Muros. O que importa é que a despeito disso, das nossas diferenças, o seu livro continua para mim como um saudável sinal de fogo em meio a tamanho descaso com a educação, sobretudo na periferia. Recomendado est.

Entre muros, entre muros, entre…

Fui assistir ao filme Entre os muros da escola. Se eu gostei do filme? Não. Buscarei explicar o fato. Não entendi a Palma de Ouro em Cannes, aliás, há muito não entendo as premiações. Elas apontam para idiossincrasias e políticas culturais que me escapam. Das quais desconfio, mas não tenho elementos suficientes pra sustentar qualquer aposta aqui. Quem sabe um dia.

O filme apresenta a relação de um professor de francês com uma turma de sétima série de uma escola pública da periferia parisiense. Deparamo-nos com um circuito fechado em que a incomunicabilidade comanda. Vemos a escola desandar em seu cotidiano, a burocracia contra, os próprios professores sem falar uma mesma língua, quem dirá os alunos. Estes, literalmente não falam mesmo, há umpersonagem descendente de africanos, cuja mãe sequer fala francês,  que pode ser visto como um emblema do filme – e do preço alto que a França paga pela sua mão pesada na (neo)colonização -, aluno que não à toa é expulso. O sistema não está preparado para lidar com ele. Aliás, a ladainha do  filme é:  ninguém ali está preparado para lidar com as diferenças em nenhuma instância. O problema é que a reiteração incansável deste muro, do mesmo sobre o mesmo, torna o filme arrastado,  insuportável e do meu ponto de vista pouco crível.

Nesse sentido, o que me incomodou sobremaneira, e pode ter significado as loas todas recebidas pelo filme, foi a claustrofobia narrativa, o sem saída de cada tentativa de contato entre cada um ali, as cenas se arrastam numa mesma tônica, que não é a dominante, mas a única. O enredo não dá descanso, não sai do entre muros, e “temos” de assisti-lo até o fim, até que a negra mais negra diga que o ano passou e ela não aprendeu absolutamente nada. Um desfecho fácil para tanto lero-lero, para tanta função fática, chamem do que quiserem.

Pra mim é tudo muito duvidoso, assistimos a um “sem saída” muito armado, muito arrumadinho. Em nenhum momento eu me esqueci de que aquilo se tratava de um filme tentando simular algo que não estava ali, por pior que seja a tal escola, ela não estava ali, os alunos não estavam. Aquela negra dizendo que não sabia nada também não estava, era um ponto final adequado demais para um longa que promete trazer algo novo. Não traz, nem na França nem na China, quem dirá aqui. Pura encenação, na pior acepção do termo. Não por acaso me incomodou o mesmo professor que escreveu o livro e viveu o drama se auto-macaquear, haja distanciamento para reviver aquilo tudo que ele narrou em letra na tela. Honestamente? Tem de ser um professor muito ruim como ele se mostra no filme para fazer este papelão, para ficar sete meses cozinhando a ferida, que no final das contas não deve ter doído tanto assim.

Que doa em nós, e sem doer, o que é muito pior. É cínico. Eu não acredito neste filme, na sua suposta denúncia, no professor, em nada. Se acusam o cinema nacional de apelar para estética da pobreza, olhem bem este filme francês e me digam que estética é essa? E que ética mora num teatrão blasé como este do Entre os muros?

Este post é só o começo de uma prosa, o levantar de uma lebre que também não está tão clara para mim. Pensemos.

P.S.: Colegas professores, eu não questiono o contexto que o filme trabalha, mas o filme. Voltarei para falar de educação, certo? E de professores.

Book paradise – Sayat-Nova

Trecho do filme  A cor da Romã (1968),  do cinesta russo Sergei Paradjanov. Retrata vida e obra do poeta  armênio  Sayat- Nova (1712-95). Câmera parada, nenhum diálogo, vento sobre iluminuras.  Aproveitem.

Cantora às avessas

Ela queria vazar o mundo num único fôlego como uma cantora gorda. Se salvar no grito, pesar. Mas tinha a voz curta, o corpo minúsculo, era em quase tudo menos. Quase se lançou ao mar com uma pedra no pescoço, seria uma boa vingança daquele corpo e o mote de um boa ópera. Não tivesse ela experimentado o escafrando e adotado a prática do mergulho. 

Uma das capas de Daniel Gil

Designer: Daniel Gil/publisher: Alianza Emece

P.S.: Comemoro com atraso de 1 dia o aniversário do mestre, que nasceu em 17 de fevereiro de 1930.

“As coisas não precisam de você”

Acordei com essa frase da canção da Marina e de Antonio Cicero (ele mais uma vez!) na cabeça, um único verso reiterando-se em mim como um lembrete que não quer ser esquecido. Nunca me ative a essa canção como hoje, acho que nunca procurei “entendê-la”, lembro de a escutar na minha adolescência no Rio com certo estranhamento,  e só. Mas não é que “Virgem” estava aqui no “fundo”, pedindo pra sair e me dizer o que eu nunca soube que havia captado? Aquilo que só a experiência me daria a possibilidade de escutar: a minha insignificância e a sua.

Virgem

As coisas não precisam de você

Quem disse que eu tinha que precisar

As luzes brilham no Vidigal

E não precisam de você

Os dois irmãos também não .....  precisam

O hotel Marina quando acende

Não é por nós dois 

Nem lembra o nosso amor

Os inocentes do Leblon

Esses nem sabem de você (nem vão querer saber)

E o farol da ilha só gira agora 

Por outros olhos e armadilhas

Outros olhos e armadilhas

Outros olhos e armadilhas