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Viva Beatriz Milhazes!

Não ter quase ido à exposição de Beatriz Milhazes na Fortes Vilaça só pode ser uma forma de auto-ataque. A exposição acabou dia 26, não sei como a vi depois, creio que me esgueirei, na maior cara de pau, pelas portas da galeria sem saber… Pela providência divina e, confesso, por transitar nas adjacências como estivesse no meu quintal, vi o que vi.

Esta foi, sem sobra de dúvida, a exposição mais instigante que já vi nos últimos tempos. Não é de bom tom dizer, mas saí desta e rumei à outra, numa galeria na mesma rua. E volto à questão da pretensão(do mal escrito post abaixo, há um embrião nele…). Pois de Beatriz fui a expo gélida de Ana Maria Maiolino. Foi como ter saído da celebração ao enterro.

Prometi-me que só falarei do que gosto no blog e não perderei tempo com expos, filmes e mumunhas ruins, mas preciso do contraponto. Afinal, foi gritante o desnível e a queda, sair da Serpentina, do Love, do Torrone à “casa cor de luz fria” foi exprimentar uma carona numa espécie de trem fantasma. E, como ambas expos estavam na minha querida rua Fradique Coutinho não resisto em comparar o incomparável.

Todas as loas do Gato à Beatriz.

Salve!, nesta visagem das melhores o Gato foi salvo, mais uma vez. O que não é a arte????

a cor da vida


Buñuel

Seguindo a dica de um comentarista anônimo sobre as minhas formigas em exílio ou melacolia , diponiblizo aqui um techo de Um Perro Andaluz de Buñuel.
A você, atento e zelozo, meu obrigada.

elas

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Obrigada, Coutinho.

Acabo de sair do cinema após ter visto pela segunda vez seu filme Jogo de Cena. O que me toma de assalto neste filme? Já eleito como um dos filmes de minha vida?

Pensei em ler todas as críticas e resenhas sobre ele. Talvez o faça, mas depois. Eu preciso escrever assim, de chofre. De memória, como as personagens e as atrizes, porque a lembrança é quem fala lá e aqui. O susto é este: a desimportância da fidelidade, ou a tremenda importância que o documentário dá a ela, justamente por não passar por um molde. A fidelidade mora no mais precário e inalcançável de nós, é o que pude sacar no filme, através dos depoimentos, de atrizes ou não, e de minhas reações nas duas sessões que vi.

O que desejo expressar pede que eu fique em silêncio, mas não posso, porque preciso dizer e só tenho as palavras para isso. Poderia tratar do rame-rame entre ficção e realidade, o que não é mais questão. Seu filme está para além desta inquietação, que me parece frívola, papo-cabeça de jornalista. A pegada é outra. O que me tomou em seu filme foi a humanidade imensa que ele impreme . Estar com o filme, diante da tela, e sair dele é como recobrar a possibilidade de viver a vida na sua precariedade e intensidade, nos arcabouços do sonho, da vigília, da imaginação, num trânsito livre, mas seguro, porque seu filme ordena este caos em que todos estamos imersos. Mas sem amarrar. Como é possível tal mágica?

Como seu filme ordena uma matéria tão fina? Suponho que por assumi-la como tal. Me lembrei de um texto de Walter Benjamin, que não tenho mais à mão e, por isso, poderei ser leviana com ele, mas até onde me lembro, tratava da importância do ato de narrar que se perdia, porque em meio as experiências fragmentadas de uma guerra, por exemplo, as narrativas perdiam seu teor épico, memorável. As lembranças eram só destroços e a experiência passava a ser desvalorizada. Não só a guerra, mas cada vez mais a distância da oralidade e o universo cada vez mais romanesco das coisas levariam, segundo ele, à experiência a um segundo plano. Concordo que isso tenha ocorrido no mais das vezes no mundo em que estamos.

Jogo de Cena resgatou para mim a importância da experiência, de que ela pode ser passada, mesmo que não epicamente, em epítetos, mas no desamparo, sem moldes, esteriótipos e sem Deus. Não à toa as atrizes se vêem diante de um grande desafio, pois representar a experiência em carne viva não é simular com cristal japonês ou verter lágrimas na hora x ou y, é estar de corpo inteiro à altura da experiência do outro. Descobrir uma via de acesso outra ao outro. É abrir-se à existência e à atuação dela no que há de mais aterradoramente próximo e singular. É viver a alteridade na veia, por mais técnica que se tenha, todas se defrontaram com o indizível que os roteiros não param de tagarelar, bem como as fórmulas familiares e sociais.

Num mundo em que o valor da experiência se perdeu e se macaqueia papéis e vidas, em que lágrimas esquizóides sustentam melodramas, Jogo de Cena acalenta. O seu filme dá continência para substâncias tão tensas e tênues como traumas e perdas, permite que elas possam emergir como tais. Abre a cortina para que aquelas mulheres nos leguem as suas experiências sem sentido, tão sentidas e legítimas de existir e atuar. O filme é um presente. Eu amei profundamente cada uma daquelas mulheres, pois o filme constrói um elo entre atrizes, depoentes, expectadoras. Relativizei meu desamparo, a minha vida, a impossibilidade de narrar e redimensionei a miséria imensa de se estar vivo e o quão lindo é isso.

Já que seja no sonho, seja no palco, podemos nos reconciliar com nossas perdas. Se há algum filme sobre reparação em cartaz é o seu.

Casa

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"eu pinto pintos" by julia miranda

Comentei com algumas pessoas que, desde que postei o Peru de Louise, fiquei com ímpetos de fazer uma série de posts com a mesma temática, a qual eu chamaria de Penianas, ou algo assim. Entretanto, desde que postei os pintos de toalha, o número de visitas ao Gato aumentou de tal forma que resolvi abortar o projeto. Parecia-me que as minhas postagens soariam muito cabotinas, numa certa toada de Ibope que não é minha praia.
Mas qual não é minha surpresa quando ao conversar com minha prima Julia via skipe ela afirma: “eu pinto pintos”. Imediatamente, enviou-me alguns arquivos perusísticos. Não posso me abster de postá-los, por mim e meu projeto inicial e por ela e sua visada peculiar de tal membro. E também para que se desfaça a imagem de que mulher só trata do “dentro”, pois o que está para fora muito nos interessa. Há muito nossa histeria pode ter muito pouco ou quase nada de uterina, bem já sabia Freud, cada vez mais nos posicionamos num movimento yang irrefreável ( sem abrir mão do yin, evidentemente).
Loas às mulheres pintoras e pinteiras como a Julia, e às outras que pintarem.



mistério pisciano ou pisar em falso

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Tem a planta desenhada por um bicho geográfico de asas; o corpo nos pés para receber dos pés a cabeça. Um desígnio, um desenho, um destino, uma pista falsa: o pé esquerdo: o desvio.

natureza morta e excesso de oferta


by haekelpenis

ou mais do mesmo.
 

 

Muito

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Mais um ano, há que se parar para pensar? Nem que não se queira o filmezinho rola todo. Banguela, farto de hiatos, ou repleto, à lá “pletora de alegria o show de Jorje Benjor”. Mas a média vence entre os altos e baixos. Não nego, 2007 esteve mais para o bege pardacento.
A novidade foi a literatura entrar de uma maneira mais prática na minha vida, pude escutar e ler textos de gente nova, como também ousar escrever o que me desse na veneta.
Curioso é que não há marcadores disso aqui, no saldo parece que o Gato não leu muito. Contagem equivocada que se deve, por um lado, pelo fato de que metade do ano ele tenha lido o que não queria, por obrigação, por ser editora de uma editora meia boca; por outro, pelo gato ter lido muito de gente que ainda não se lançou e não é bonito expor o que ainda está sendo gestado, não falo antes do autor maturar e permitir a exposição.
Mas que 2008 promete coisas bonitas é um fato, e isso não de deve só por ser um ano novo, porque o Gato não é muito da esperança, tem um sol negro no peito que carrega mesmo na alegria mais aguda. O ano promete por ser a continuação da média para baixo de 2007 que anda subindo, o Gato está mais em foco, mais perto do que gosta, do vazio do seu apartamento, do Gato, da possibilidade de escrever como profissão. Reencontrou-se com a psicanálise, tão querida e desde 2006 relegada ao quarto escuro.
Aliás, reencontros houve muitos, assim como encontros, um dos mais felizes foi com a oficina de escrita do Marcelino Freire e com um “ar” que ele agrega que eu gosto de respirar. Conheci gente conflitada sem negar os flancos, indo contra corrente, sem deixar a escrita morrer mesmo sem âncoras, porque elas não existem. Um tipo de gente que me identifico mais, inquieto, insatisfeito. Eu gosto muito dos insatisfeitos e não confundam isso com rebeldia ou marginalidade, caricaturas fáceis, que cabem, mas a veracidade da vida é mais complexa e graciosa.
Insatisfeito é aquele que insiste em acordar todos os dias e procurar criar ainda que o mundo seja escroto, porque é. A beleza é essa.

A trilha sonora:

Muito

Caetano Veloso

Eu sempre quis muito
Mesmo que parecesse ser modesto
Juro que eu não presto
Eu sou muito louco, muito
Mas na sua presença
O meu desejo
Parece pequeno
Muito é muito pouco, muito

Broto você é muito, muito
Broto você é muito, muito

Eu nunca quis pouco
Falo de quantidade e intensidade
Bomba de hidrogênio
Luxo para todos, todos
Mas eu nunca pensei
Que houvesse tanto
Coração brilhando
No peito do mundo louco
Gata você é muito
Broto você é massa, massa