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Calcanhotto e Waly – Maré-maremotto

Uma coisa desbundante? O novo CD de Adriana Calcanhoto, tropicalista e marítimo, muito azul. Ela é muito.  É necessário entrar no belíssimo site http://www.adrianacalcanhotto.com/

O disco é dedicado ao Waly, figura que aprendi a amar. Além de gostar do que ele faz (fez). Ele gostaria do disco dela, tenho certeza.

Aqui uma foto que fiz do Waly em 1998

Uma bocarra muito afiada, que me dava medo, mas muito doce também, tanto que reuniu a obra do Torquato Neto. Escreveu sobre Oiticica… entre tanta coisa, sua verborrágica poesia…………. Barroco, barroco, paradoxal, ondas e mais ondas, maré e maremoto.

Como eu tinha uma edição rara de Os últimos dias de paupéria pedi para ele autografar.

 

Voltando!, a dica é Adriana.  A lembrança, Waly.

Pensei em postar muitas fotos de pé. Só pensei. Há uma distância enorme entre o que eu penso e efetivamente faço, tem sido assim, acentuadamente, nos últimos quetro meses. Algo na minha vida, algo que eu sei, mas não cai bem falar aqui, fez-me ficar cada vez mais introspectiva. Quando eu ia sair da onda “concha”, ferrei meu pé. Agora faço fisioterapia todo dia e descobri o quanto detesto fisioterapia. Faço também acupuntura e decobri o quanto gosto de acupuntura. Por uma hora penso menos, meu cérebro desacelera e meu pé desincha, vibro noutro comprimento de onda. Talvez este post seja sobre o poder curativo da acupuntura. Acho que é isso. Recomendo tanto para quem está ruim da cabeça quanto para quem está doente do pé.

Outra ( ainda que a mesma)

Mudei de endereço. O blogspot estava me cansando. Não suportava mais o meu layout, o modo de postagem da coisa e, sobretudo, o nome do blog. De repente não fazia mais sentido. Já não quero dividir meu verbo com um Gato. Foi boa essa parceria esquizofa com um felino, mas ando preferindo a primeira pessoa. Cá estou, gosto do nome deste blog, da ambiguidade de um sorriso de Medusa, que atrai e petrifica. Tenho uma Medusa enorme aqui comigo. Ela é um emblema de uma passagem, dura, rochosa, que é minha e, por isso, muito irônica também. Mais perversa que um Gato. Mais feia e mais bonita também. Este blog tem um pouco um olhar-se no espelho através do escudo de Perseu e sobreviver. è dar um passo a mais em direção ao prório rosto e gosto.

 

Mas sei que é um passinho e eu continuo a mesma Gato e agora Medusa, um sorriso que não se sabe bem qual é. De quem. Dessa forma inicio meu novo blog amarrada ao outro, com ele aqui a um post de distância, com a memória dele, presente e acessível. E  mais: mantive o gatocontraparede.blogspot.com no ar.

Um Gato espelhado na Medusa para que a Luciana saia. Vejamos!

Sorriso de Medusa

Fernado Vallejo e + Laura Restrepo

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Acabei de ler O Despenhadeiro e o autor me conquistou, apesar do que eu disse uns posts atrás. Vi que sua verve direta é muito mais do que isso, que nada está tão claro quanto parece, nem a primeira pessoa que ele insiste em dizer que usa, nem sua obssessão pelo Papa, nem tampouco sua bile negra negra negra. Mostra a a Colômbia destroçada, ele-autor-personagem-irmão-família também; baba de ódio, ódio, ódio, mas esse exagero chega ao paroxismo e nesse excesso é que me dou conta do quanto sua escrita e loucura são pacificadoras, porque ele nomeia as coisas, assumindo a complexidade delas e enfiando-lhes o dedo na cara. Manda tudo ou quase tudo à merda. Mas, no entanto, a merda cola nele, poque ele não consegue enlutar, é uma escrita melancólica, cheia de fantasmas que o perseguem, dos quais não consegue se libertar, porque ele que me desculpe, tem compaixão demais, apesar de não saber. Ele cai junto no lodo do que escreve e descreve e rememora. É uma espécie de sobrevivente da própria memória. Não li os outros livros, mas creio que a cada livro ele sobrevive a si mesmo, porque nomeia a merda. A grade merda. E como dizia Freud:”o que não vira palavra, vira sintoma”. Eis um puta autor, que aquém da sua prória miséria a supera pela escrita, um “fi-da- puta” como ele mesmo diz.

Encontrei uma pérola. Uma entrevista feita pelo jornal El País com Fernando Vallejo e Laura Restrepo, que só confirmou o que eu já desconfiava, a proximidade entre ambos. Quem quiser o papo todo clique aqui.

diálogo

Escritores traçam painel sombrio Da Colômbia e atacam Uribe e as Farc

Laura Restrepo Escritora ColombianaFernando Vallejo _ Biólogo Cineasta e Escritor colombiano

por Juan Cruz

Laura Restrepo, 57 anos, é autora de “Delírio” e Fernando Vallejo, 65, é autor de “El Desbarrancadero”. Os dois romances, um sobre a violência doméstica, outro sobre uma mãe que desmorona como a Colômbia, são metáforas da situação que vive o país em que nasceram. Dois grandes escritores, duas personalidades radicais cujo compromisso com a escrita é um compromisso com a vida. De uma maneira ou de outra, com a Colômbia.

El País – Como este país afetou os senhores, como escritores?

Restrepo – Eu vou lhe falar sobre a literatura de Fernando. A literatura de Vallejo é uma das grandes ações que temos no campo da cultura para desmontar toda essa maquinaria de morte e opróbrio que há. Porque Fernando chama as coisas pelo nome, e eu creio na palavra; é nossa ferramenta, detesto a palavra que dá pistas falsas… Não só ele é um grande escritor, como mostrou essa espécie de face oculta da vida colombiana; se opõe à hipocrisia…, porque nós temos essa herança católica e espanhola do pudor, que nos impede de mostrar a roupa suja fora de casa. Fernando só faz lavar a roupa suja com a maestria que tem como escritor. Mas é tão importante sua palavra, e não só na Colômbia!

Vallejo – Eu não sei, porque meus livros me esqueceram; eu passei a metade da minha vida vivendo fora da Colômbia, mas sempre tive a Colômbia na cabeça, na verdade não fui embora. E a gente está onde o pensamento está. Então daqui volto e vou, vou e volto. Na realidade volto e vou, mas sem ter ido. Estou na Colômbia, sempre estive. E é uma das razões pelas quais não me matei. E também uma das razões pelas quais não me mataram. Porque a Colômbia é um país louco. E a Colômbia, se não o mata, pode levá-lo ao suicídio. A Colômbia é um país enlouquecedor. A Colômbia é um país delirante.

Restrepo – Não gosto de falar de literatura colombiana. Porque Fernando é lido em todo o mundo, seus livros são traduzidos em toda parte; não falam da Colômbia, sua literatura fala da condição humana. Uma garantia de nossa derrota é que o coloquem em um nicho: “Ah, são colombianos!”

Vallejo – Os problemas daqui são os problemas de qualquer lugar. Bogotá pode estar engarrafada; assim está o México, assim está Madri, assim está todo o planeta. O problema é universal e o problema é que não cabemos. Há muita gente, 6,5 bilhões, no planeta; aqui somos 44 ou 46 milhões, como na Espanha. Começamos o século 20 com 2 milhões, o terminamos com 42. Bogotá tinha 100 mil habitantes quando começou o século 20, hoje tem 7 ou 8 milhões… Como é possível estarmos em um país se nos multiplicamos dessa forma?

Restrepo – Uma coisa que eu quero dizer: fora o carinho e a admiração que tenho por Fernando, penso que nós dois mantemos uma independência muito grande diante do poder. Não há nada pior que a literatura palaciana. E é nisso que nos encontramos.

Vallejo – Uma coisa que acontece aqui agora é que cada vez menos escritores aceitam cargos políticos…

Restrepo – Seria preciso ser ainda mais radical: não só não aceitar cargos, nem sequer aceitar tomar chá com os presidentes, não aceitar viagens com ministros, bolsas… A literatura em si é um poder e esse poder você perde no momento em que se torna palaciano.

Vallejo – A única forma de calar alguém é com uma bala.

El País – Vocês são escritores desde jovens. O que os levou à literatura?

Restrepo – Eu participei muito da política, sou professora. E agora escrevo. Creio que sempre me motivou o mesmo: a paixão pelo que as pessoas fazem, a necessidade de estar perto das pessoas, a necessidade de colocar palavras nas coisas que vivo e que vejo. Não creio que tenha uma motivação como escritora diferente da que tive para ser política ou para ser professora.

Vallejo – E a mim chegou por estar desocupado. Não tenho nada para fazer, por isso me entretenho escrevendo. De verdade! A minha é uma literatura que não está pensada nem sequer para defender as causas; como a minha causa dos animais, porque essa causa quase não está em meus livros… Eu escrevi por desocupação, porque percebi que me dá um prazer muito grande incomodar. Queria que muita gente se incomodasse, começando pelos mais miseráveis.

Vocabulário II

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Tudo ao mesmo tempo agora. Aí vai mais um Vocabulário, o segundo deste ano! Destaco dois amigos: Rodrigo Ciríaco e Marcela Lordy. O primeiro vocaliza bem que só! Anos de saraus e muita verve; ela está no começo, mas sei que virá vitaminada, porque entende de imagens, atuações e trilhas.

Imperdíveis são também e, sobretudo, a Eunice Arruda e a Alice Ruiz, digo porque já as ouvi vocalizar e arrasaram.

Os escritores não necessariamente tem o sangue do palco, de ler em público, mas estas duas além de escrever são expressivas pacas. Sorte de todos nós. Não cito outros que já li, porque nunca os ouvi ler. E reitero: escrever e ler são duas artes, que se complementam, mas são duas, não tenho dúvida.

Dica dada.

RASIF – Mar que arrebenta

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Mais uma, das melhores, dia 14/08, lançamento do livro RASIF – Mar que arrebenta , do grande e querido escritor Marcelino Freire. Com gravuras de Manu Maltez. No espaço Cultural O B_arco.

Segue trecho da obra afiada, sem papas na língua, do autor pernabucano ( retirado sem pudor do site Cronópios – o indispensável.)

Amor cristão

Amor é a mordida de um cachorro pitbull que levou a coxa da Laurinha e a bochecha do Felipe. Amor que não larga. Na raça. Amor que pesa uma tonelada. Amor que deixa. Como todo grande amor. A sua marca.

Amor é o tiro que deram no peito do filho da dona Madalena. E o peito do menino ficou parecendo uma flor. Até a polícia chegar e levar tudo embora. Demorou. Amor que mata. Amor que não tem pena.

Amor é você esconder a arma em um buquê de rosas. E oferecer ao primeiro que aparecer. De carro importado. De vidro fumê. Nada de beijo. Amor é dar um tiro no ente querido se ele tentar correr.

Amor é o bife acebolado que a minha mulher fez para aquele pentelho comer. Filhinho de papai. Lá no cativeiro. Por mim ele morria seco. Mas sabe como é. Coração de mãe não gosta de ver ninguém sofrer.

Amor é o que passa na televisão. Bomba no Iraque. Discussão de reconstrução. Pois é. Só o amor constrói. Edifícios. Condomínios fechados. E bancos. O amor invade. O amor é também o nosso plano de ocupação.

Amor que liberta. Meu irmão. Amor que sobe. Desce o morro. Amor que toma a praça. Amor que de repente nos assalta. Sem explicação. Amor salvador. Cristo mesmo quem nos ensinou. Se não houver sangue. Meu filho. Não é amor.


Olho de Boi – O filme

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Pois é amigos deste singelo blog. Dia 15/08 haverá a estréia nacional do filme Olho de Boi, de Hermano Penna, meu pai. Até onde sei a coisa toda começará por São Paulo no HSBC, ali esquina de Paulista com Augusta. Quando eu souber mais aviso.

Desde já deixo claro que em cada convite para um filme do cinema nacional mora um apelo: Vão ao filme, please! Porque do contrário o filme fica em cartaz uma semana só e morre na praia. Já que a distribuição é sempre um problema, competir com as produções de fora um inferno e blá-blá-blá. Esse papo não é novo, como não são as mil uma das mazelas deste país, mas devo falar. E com toda honestidade do mundo pedir que o caloroso público venha! Como muitos da classe cinematográfica tem feito há anos, muito dignamente por aí, sendo o mais recente caso o do diretor Murilo Salles. Saiu à imprensa, pôs o dedo na ferida. E tem tido resultados significativos.

Mas sem deixar de lado este tema “cinema nacional”, de dentro dele, vamos ao que interessa, por exemplo, o…

Trailer

Quem quiser saber mais sobre o filme é só ir ao http://olhodeboiofilme.blogspot.com/ , cuja navegação só se dá decentemente no Mozilla Firefox.

Junto à minha campanha pelo cine brasilis somo mais uma: usem o Firefox!!!

Firefox

Estrangeiros – Erez Tadmor e Guy Nattiv

Vale ver. Clica aí. Pela tolerância, por mim, por você. E não é blá-blá-blá.

Delírio – Laura Restrepo

Com meu super celular, que me dá alguns segundos de gravavação, fiz um planinho de um livro que recomendo: Delírio, de Laura Restrepo. Uma bogotana das melhores. Alta, alta voltagem de boa ficção, muita Colômbia, memórias, famílias destroçadas. Praticamente a mesma temática de outro livro que estou lendo O despenhadeiro, de Fernando Vallejo.

Impossível comparar dois autores, mas só posso dizer que a verve demasiado crua de Vallejo não me convence como a dela. Ela é uma autura-autora , que às vezes quase escorrega para um maneirismo com toques saramaguianos, mas ela vai além. Supera a influência e impõe sua voz sem que percebamos, sem tapas, linha a linha e são 292 páginas. Além disso, ela construiu uma personagem para ficar, Augustina, delirante, perdida entre as lembraças e traumas familiares que lhe perseguem desde sempre, desde seus avós ou antes.

Laura Restrepo cosntrói uma quase que autobiografia polifônica, se é que isso é possível. Vários planos, várias vozes, um enigma Augustina que se derrama pelo livro. Todos os personagens dão pistas e são as próprias pistas da loucura dessa mulher.

Gato de ouro. Mais uma autora para “colar” letra à letra. Adorei a capa, de Rita da Costa Aguiar. Como faz diferença uma capa sensível. Coisa que o Fernado Vallejo não teve aqui, mas isso dá outro post.

P.S: Não à toa uma gíria da periferia carioca é chamar algo de “Tipo Colômbia”, estamos quase lá (ou será que já passamos?).