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Arquivo de

M.

E era tanto. E mais alto e mais acima que isso. E mais longe e mais triste que o outro lado perdido. E era fora de plano como um terreno implodido, sem rastro, sem pista, sem bomba, como um deserto, como o nó mais seco já imaginado ou visto. Não era nem mesmo assim desse jeito que eu sei que você pensa que sabe e eu também. E era mais arrepiado e mais agudo, e ainda mais pra frente daquele que não se toca. E era muito novo também. E era até bonito, mesmo assim, sem cor. Tão vazio como um pedaço, partido. Caído, não era anjo, não era sangue, não era mais, e era filho.

Resistiré

Pá, pá, pá, pá.

Quanto riso, oh!

Lili mandou pra mim via.

P.S.: Entre fashions e feridos  seguimos todos.

Te pega dali, te pega de lá

via

Gente, seguraê, eu sei que não estou escrevendo muito não. A vida está tão cheia de chamados práticos e pragmáticos nestes últimos tempos que a Medusa aqui está alucinada. Desde que passei por uma cirurgia este ano, coisa simples, emergencial, no entanto, vivo enrolada com reembolsos de plano de saúde que não vêm, e que foram exaustivamente pedidos via fax, via e-mail, via telefone, via a pqp, como também com reembolsos que vieram, mas com somas irrisórias referentes ao não sei o que mais, porque a coisa só é clara na hora de pagar – reembolsos, óbvio, que devem ser questionados via isso e aquilo, numa comunicação estafante que garante ao cristão, eu no caso, mais enfermidades. Não há dúvida. Eu sei, eu sei, eu ainda estou no seleto grupo dos que têm plano de saúde, mas não menosprezem a minha dor e não se enganem: saúde não é coisa pra iniciante. Além desta aporrinhação, há os boletos de não sei que trocentas coisas que este mês resolveram vir com as somas erradas, ou me propõem parcelamentos canhestros que eu custo a acreditar que alguém de carne e osso, mente e outros atributos de gente terrena os tenha bolado. É surreal o nível de indecência das propostas, conclusão ululante que só chego depois de muito esforço em entendê-las, porque, minha gente, boletos, títulos e quetais são quase artigo de decifração pra mim. Parcelamento então é coisa para altas abstrações matemáticas acima de minhas capacidades. E, de repente, não mais que de repente, este mês até o meu boleto de aluguel, sempre igual, sempre subindo, veio diferente, por causas de umas obras estruturais que paguei de boa fé e a proprietária resolveu sem aviso, com os meus cheques já por aí, tirar o seu da reta, um inferno. Eu sei, eu sei, eu sou do seleto grupo que paga aluguel na vila madalena, oh!, mas não desconsiderem meus percalços, as burocracias são de alucinar qualquer espírito e o meu não foi feito pra isso, eu encaro o fado, faço e refaço ligações, o que for, mas o custo emocional e outros são altos demais. Definitivamente eu não sou boa de soma nem de subtração, muito menos de multiplicação, resultado: as contas com tamanhas complicações e sobrepostas num efeito dominó me exasperam. A vida é dura, lo sé, mas se complexifica exponencialmente quando o seu cotidiano vira uma central 24 horas do direito do consumidor. Sei também que todos vivemos, ou quase todos, um tanto disso, basta respirar que a agonia da “ciranda financeira”, como dizia uma tia-avó minha, te pega dali, te pega de lá e os dias ficam com cara de sobrevida. Conto isso, desabafo geral, porque pra acentuar o drama acabo de voltar de uma troca de um celular – que eu havia resgatado ontem, ontem! – e,  evidente,  antes de ter a troca atendida pela operadora foi um tal de via *8888, via fábrica, via atendente X, Y, Z, ir à loja outra vez, no frio de hoje, num shopping detestável como todos são, e chamar o gerente e… será que isso tem fim?

Ela, capas

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via

Elogio da distância

Na fonte dos teus olhos
vivem os fios dos pescadores do lago da loucura.
Na fonte dos teus olhos
o mar cumpre a sua promessa.

Aqui, coração
que andou entre os homens, arranco
do corpo as vestes e o brilho de uma jura:

Mais negro no negro, estou mais nu.
Só quando sou falso sou fiel.
Sou tu quando sou eu.

Na fonte dos teus olhos
ando à deriva sonhando o rapto.

Um fio apanhou um fio:
separamo-nos enlaçados.

Na fonte dos teus olhos
um enforcado estrangula o baraço.

Sete rosas mais tarde. Antologia poética. Seleção, tradução e introdução de João Barrento e Y.K. Centeno. Lisboa: Cotovia, 1996.

via

Mar, avô

Quando amor divisa com a reverência é bom lembrar que ele teve um corpo. As minhas saudades permanecem, mas  publicamente as encerro aqui, com meu avô junto a Paola, sua neta, num Rio de Janeiro de 1973, fotografado talvez por sua filha Madalena.

P.S.: Embora, aviso aos navegantes, este ano eu ainda queira falar de minha avó. Veremos.

Salto

via

+ Rocha Miranda – fontes

Alcides

foto de ana luiza nobre

Eu continuo com a cabeça no meu avô. Pois é. Pesquisei o que há sobre este homem na rede e o que de melhor encontrei está no site do Itaú Cultural, e me pareceu muito pouco – basta clicar aqui.

Fora da rede, há uma pequena, mas significativa bibliografia publicada:

A NOVA flor de abacate / Os dissidentes: Grupo Guignard – 1943 / 1942. Texto Frederico Morais. Rio de Janeiro: Galeria de Arte Banerj, 1986. [80] p., il. p&b. (Ciclo de exposições sobre arte no Rio de Janeiro).

CAVALCANTI, Carlos; AYALA, Walmir, org. Dicionário brasileiro de artistas plásticos. Apresentação de Maria Alice Barroso. Brasília: MEC/INL, 1973-1980. (Dicionários especializados, 5).

FROTA, Lélia Coelho. Alcides Rocha Miranda: caminho de um arquiteto. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1993. 232p. il p&b.

LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Edição Raul Mendes Silva; fotografia Leondino A. Kubis, Horst Merkel, Luis Eugênio Teixeira Leite; design da capa Pedro Lessa; direção de produção Maria Ignês André, Gratia Maria Domingues; pesquisa Raul Mendes Silva. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988. 555 p., il. p&b., color.

MINDLIN, Henrique E. Arquitetura moderna no Brasil. Apresentação José Mindlin; Lauro Cavalcanti; prefácio S. Giedion. Rio de Janeiro: Aeroplano, 1999. 286p., il. p&p, color.

NOBRE, Ana Luisa. Alcides Rocha Miranda, educador. Caramelo. São Paulo, n.10, p.128-137, 1998.

_______. Alcides Rocha Miranda. Documento. Arquitetura e Urbanismo. São Paulo, n.71, pp.69-76, abr./maio, 1997.

_______. O passado pela frente:  a modernidade em Alcides Rocha Miranda. Dissertação – PUC-RJ, 1997.

PONTUAL, Roberto. Dicionário das artes plásticas no Brasil. Apresentação Antonio Houaiss; fotografia Antônio Luís Nicolay, Otávio Gomes Soares; texto Mário Barata, Lourival Gomes Machado, Roberto Pontual, Carlos Cavalcanti, Flávio Mota, Aracy Amaral, Walter Zanini, Ferreira Gullar. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1969. 559 p., il. p&b., color.

Acrescento também o livro de Salmeron, pois se não trata diretamente do meu avô, o tem como figura chave na construção (e defesa) da protagonista, a Universidade de Brasília,  e seu ICA, Instituto Central de Arte. Modelar ainda hoje.

SALMERON, Roberto A. A universidade interrompida: Brasília 1964-1965. Brasília: Editora UNB, 1999. 476p.

Para não dizer que não falei

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E me pediram para escrever sobre a Flip, eu  que não tenho muito mais a acrescentar, além de agradecimentos. Agradeço aqui a acolhida das queridas Fernanda  e a Analu em suas já reservadas pousadas; ao Marcelino pelo ingressos dados, a Letícia da assessoria por outros mais, ao Eduardo pelo do Lobo, pela “sorte” enfim de eu ter visto o que quis e ter os amigos que tenho. Foram ótimos os almoços com Samir e Letícia e Elza e Bia e Fernanda e Rodrigo e Dominique e Analu, e jantares com Eduardo e Helô. Agradeço ao Pasin pela alegria no encontro, que reforçou a falta do Rio, do meu avô, da Lia Nazareth, e, claro, pelos livros que me deu, inclusive autografados; agradeço também ao Emilio pelo Flores.

Pois é, confesso que voltei exausta e sem disposição para comentários sobre mesas, eu estava numa alta voltagem emotiva, que ainda se perpetua. O sentido da Flip para mim foram os encontros,  que podem dispensar festas, mas não as pessoas que estão nas festas.

Diante da minha toada sentimental não creio que caiba aqui balanços e críticas, carrego comigo do evento algumas questões que reincidiram nas mesas, aparentemente já respondidas, mas que tem grande repercussão aqui, interna, como a do limite entre a fatura literária e o autobiográfico, eu sei, eu sei que beira o clichê, mas fazer o quê? Ainda fascina, como bem afirmou Tezza diante de um Bellatin que quanto mais nega sua presença, mais a afirma. Tensão trazida quase obscenamente em mesas como de Sophie e Gregoire e na de Katerine M., cuja mediação se enredou mal na questão e fez da mesa uma sessão pública de psicanálise para desconforto geral; tal perpectiva fusional, digamos,  em relação à obra também foi encarnada por Domingos de Oliveira, sem pejo e de modo celerado como é de costume em Domingos – que assim seja e que seus filmes sejam mais vistos. Tatiana Salem Levy ainda que negando, com razão, a redução da sua obra à sua biografia, também teve seu discurso como ponto alto da questão, comovi-me com sua fala, com sua presença e timidez, com o tema, ainda que eu não conheça o seu livro, situação que me constrange. Porque eu sou do partido de que o que interessa são as obras, mas como alguém que vai a uma festa destas pode dizer isso? É necessário muita hipocrisia, não?

Resta-me o conflito, e a felicidade de ter estado lá.

P.S.: Já que falamos de gentes, não posso deixar de marcar aqui meu encantamento com a fala de Rafael Coutinho, é daquelas que ficam, pela afetividade, pela pertinência, pelo apreço aos colegas de mesa, enfim, por uma maturidade que não se explica, mas que gostamos de ver. O moço ganhou uma fã.